segunda-feira, 10 de junho de 2013

pensamentos a retalho #13 - Navegar

Trespassar laivos de tinta salgados, ou doces, quem sabe? Vamos galopando nas ondas e o vento torna-se apenas nosso companheiro de viagem. Aquela força que nos empurra para a frente. O suave movimento marítimo, tão calmo e poderoso que num só murmúrio, canta toda uma vida, repleta de ciclos e histórias de evolução.
Quem sabe, se nós, a própria raça humana, num passado mais remoto, possamos ter sido pedaço de todo aquele profundo azul? Há teorias sobre isso, mas verdade seja dita, nenhuma gota daquela imensidão revela esse segredo capital. 


Só de imaginar que, debaixo daquele pacifico manto, onde se reflecte o céu, imerge uma gigantesca e quase aristocrática fonte de vida. Até parece mentira. Como podem aquelas águas de ar pacificador, albergarem tamanho frenesim em suas entranhas. Ah, segredos da vida.
Uma vez, disseram-me, ao ouvido, que o mar é um grande lago formado pelo choro da mãe Terra e que em cada gota de sal se esconde um segredo. Ao desfolhar o paladar salgado nas nossas línguas desvendamos um pouco desses segredos. 


Mas será que o fazemos com a atenção necessária para ouvir o choro manso da Terra? Acho que não. Preocupa-mo-nos mais em falar. Escutar nunca foi o nosso ponto forte. Distrai-mo-nos com relativa facilidade e lá vamos nós, de olhos postos no horizonte, sem fim à espera de algum acontecimento grandioso e magnifico, quando na realidade o que existe de magnifico em toda a viagem, é o caminho. 


Não há riqueza que pague um fogo de artificio tão inebriante como um nascer do sol. Assistir a todas aquelas pinceladas de cor no céu a estenderam-se nos muitos espelhos d'água baloiçando ao sabor da ondulação. O oceano aparece trajado a rigor preparando-se para mais um dia de festa. E nós ali, pequenos pedaços de matéria viva contemplando um dos maiores mistérios da criação.
Será que o mundo se resume a uma vida? Será que a vida se resume à Terra? Será que o Universo tem fim? Será que existe matéria para lá do Universo?....
Talvez uma destas gotinhas salgadas me desvende esses segredos existenciais, ou talvez eu me deixe rendida apenas à arte de navegar... e tendo o vento a meu favor, vou velejando pelos oceanos da vida.

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