segunda-feira, 10 de junho de 2013

Incandescência

Se a incandescência 
das tuas pétalas tardias
curasse os meus instantes gelados
retraídos e guardados
em pequenos pedaços quebrados
devagar, quase parando 
o pulsar do meu coração.

Páginas banhadas de fogo
queimando notas antigas
rosas negras e sofridas
dando de beber às feridas
que o tempo se recusou a curar.

No chão deitam-se agora as cinzas
nas sombras do que ainda restou
procurando o rastilho
por entre as brasas de lume bravo
atiçado pelo beijo das brisas de inverno

E nas mãos ardem
retalhos de sonhos,
pequenos pecados sombrios
embrulhados em finos detalhes macios
apertados pela fineza da dor
e adornados com saudosos laços de amor.

No peito jazem as ultimas chamas inflamadas
tão frias e delicadas
espalhando o mesmo perfume
estilhaços floridos de mágoas
plantados pela força do destino
criam teias enraizadas
nas entranhas do meu coração.

Por ultimo, cessam então as águas
os últimos rios de sal
deslizam do meu rosto
apagando as marcas do incêndio
que a paixão ateou um dia
mas que hoje, se reflecte
no espelho verde dos meus olhos
com a mesma intensidade
com a mesma estranha força
que baptizaram de saudade. 



( foto de António Rocha fotografia)

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