domingo, 28 de abril de 2013

Dicionário de sentimentos #2 QUIMÍCA


Química:


(imagem do Google)

Muitos dirão que a química é a ciência que estuda a matéria. Porém, a química é muito mais que uma mera ciência. É toda a sabedoria do conhecimento que permanece inscrito no mundo que nos rodeia e na relação que temos com o mundo. Se respiramos exercemos química, simplesmente vivemos executando todo o método cientifico da nossa existência. Somos todos engenheiros das nossas próprias experiências, sendo que o mundo é o nosso grande laboratório e os corações daqueles que se cruzam connosco, os nossos tubos de ensaio. 


O resultado de tal formula irá depender exclusivamente dos reagentes que utilizarmos,  átomos de harmonia e concordância geram moléculas de paz. Soluções de paz transformam-se em pequenos paraísos através da sublimação das almas. 

O próprio amor é um ensaio químico, o mais perfeito de todos eles, cuja mistura dos elementos certos, se torna capaz de curar todos os males. 


sexta-feira, 26 de abril de 2013

O monte dos vendavais

Lá fora correm os ventos uivantes
não partem sem varrer as injurias
não ficam sem quebrar as almas frias
não calam sem romper toda a erva daninha
que cresce no cimo dos montes.

Quem sabe quantas dores
se escondem naqueles campos bravios
quantos foram os mares sofridos
derramados no chão
debaixo da imponência das nuvens
que cobrem a terra
no lugar onde nunca pára de chover.

Quantas lágrimas de orgulho
rasgaram almas feridas de amor
quanta raiva alimentou a sede de vingança
quanta destruição deixaram de herança
para os que viriam a nascer?

Debaixo da terra dormem
aqueles que a ira do vento levou
mas em longas noites frias
almas penadas regressam
batendo sofregamente
nos vidros das janelas
implorando guarida
na sua derradeira morada.

Já muitos anos passaram
mas nem a dureza do tempo
ousou interromper tal ciclo vicioso
e hoje, restam apenas as ruínas
habitadas por fantasmas
manchadas por almas incuráveis
errando, gemendo e chorando
e ao longe o vento ainda uiva
assombrando o monte dos vendavais.



(imagem do Google)

poema inspirado no livro " O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë 
uma historia de que gosto bastante e que voltei a reler recentemente.



Dicionário de sentimentos #1 : PERFUME

Perfume:

Aroma que se entranha em nós e toma posse das nossas memórias. Doce mar de emoções que nos transporta nas asas da nostalgia, revelando um sem fim de novos lugares já (re)visitados. Quem sabe, em tantas outras vidas.

Esquecem-se rostos, lugares e até sonhos, espalhados pelas ruas da mente. Esquece-mo-nos, por vezes, até de quem fomos, de quem somos, mas uma só brisa de perfume será capaz de acordar o mais adormecido dos desejos. Então, desejos e recordações fundem-se , oferecendo-nos um beijo tão sentido que quase nos queima por dentro. Transforma-se em código, inscrevendo-se, através de nós, em todos aqueles que hão-de nascer das nossas entranhas.
Cheiros carregados de esperanças e futuros, porém nascidos em remotos passados lavados pela amargura do tempo e quase apagados pela saudade.
E disso a alma nunca se esquece, fica rendida aos encantos de um mero perfume. 

(imagem do Google)

O leitor

Dramas perdidos 
em páginas carregadas de aventura
cessam amarguras diárias
trocando encantamento
por algumas horas de compreensão
e pura perda da noção real de existir.

Corre por campos de palavras
escolhidas a dedo
por criadores de sonhos
contos, poemas e armadilhas
audazes no tempo
em que já não existe tempo para perder
mas antes tempo para perder-se
e encontrar-se de novo
no final de cada paragrafo.

Movido pela estranha curiosidade
quase não sossega
conta insónias letradas
na pressa de chegar
ao final feliz,
mesmo antecipando
uma épica tragédia
descrita em marcados pormenores
na ultima linha dos longos romances.

Anseia dominar a trama
com os seus desejos de leitor
vive cada pedaço de história
como se fosse seu criador
narra em voz alta
guardando cada silaba,
com carinho,
na estante do coração.

E se, por longas horas
se ausenta do mundo
vai vivendo nas muitas vidas
que vai lendo,
e vivendo de faz de conta
acaba por contar todos os sonhos
que nunca teve
mas que guardou
em cada página que leu.



(imagem do Google)



O segredo da Terra...

Conhecemos os segredos,
lá do fundo das entranhas da Terra
mas desconhecemos o direito de sorrir
que permanece enraizado no solo
correndo junto ao leito dos rios.

Talvez um dia encontrem
o caminho das grandes águas
onde os ventos se cruzam
levando consigo o pó da Terra
envolvendo-se na salina marítima
de encontro à morada das profundezas.

Lá, onde as ondas se misturam
com o canto murmurado das sereias
que habitam nas sombras dos navios naufragados
transformados pelas mãos do tempo
em recifes repletos de vida,
alguém acordará a arrogância das tempestades
e curará todas as mazelas do mundo.

Lá, onde metais preciosos se fundem´
e abundam pedras de rara beleza,
ambos filhos da mesma mãe natureza
permanecem inscritos os segredos da vida
que só Deus ousa conhecer
mas que o Homem julga ter encontrado.



(imagem do Google)


O ultimo compasso do pianista (mini-conto)

Costumava passar horas a fio a observar-te tocar. Quase ficava hipnotizada. Era como se o tempo parasse. Não havia mais nada. Apenas eu, tu e aquele velho piano. Creio que aquelas teclas já conheciam a moda dos teus dedos, como uma mãe conhece as manias de um filho, mesmo nas profundezas do seu intimo. Era como se tu e aquele piano fossem um só, em toda a possessão musical que emanavam de corpo e mente. Pressionavas as teclas tão efusivamente que o chão parecia vibrar ao som de cada compasso tocado.

 De vez em quando paravas. Olhavas para mim e sorrias com aquele ar maroto que sempre tiveste. A tua veia artística sempre fez salientar em ti esses traços selvagens mas em comunhão com a tua perfeita natureza clássica. Nunca consegui explicar isso muito bem. Nem tu. Nunca conseguiste definir-te. Oscilavas entre o clássico e o contemporâneo, entre o jovial e o melancólico, entre o teu eu presente e aquele teu outro eu que sempre será criança. 
Questiono-me se não terias herdado esses traços de outras vidas anteriores a ti mas que de alguma maneira ainda vivem ao sabor das notas que tocas. Deixas sempre a mesma pauta para o fim, só para teres o prazer de ouvir a minha voz quebrar o silencio das tuas paragens para implorar para que a toques. Finges começar a toca-la e voltas a parar. Adoras deixar-me expectante... sempre naquela ansiedade de escutar tão doce harmonia. Então, com aquele olhar doce e terno pedes que dance para te acompanhar. Como poderia negar um pedido teu? 
Em silencio, apenas sorri, levantei-me lentamente e coloquei-me de pontas. Os braços imitavam os voos de um perfeito cisne, enquanto me observavas. Começaram a soar as primeiras notas. Teus olhos já não se perdiam na imensidão preta e branca das teclas, nem nas notas daquela velha pauta, que já conhecias de cor. Agora os teus olhos, dois pequenos pedaços de céu, de uma estranha profundeza de azul, estavam fixos em mim. Quase os sentia abraçarem-me. 
E continuavas a tocar. E eu continuava a dançar, quase chorando de emoção. O teu sorriso me acarinhava de mansinho e os teus olhos me abraçavam cada vez mais forte. Já não havia mais nada. Apenas aquele momento. E se o mundo terminasse naquele instante, em sei, que voarias comigo, ao som daquela mesma sinfonia. Soou a ultima nota. Eu já a esperava, e tu também. Porem, o silencio não foi capaz de quebrar o meu voo e em segundos não só os teus olhos mas também os teus braços me abraçavam. 
Voávamos juntos, nossas almas já não se encontravam separadas, ter-se-iam prometido uma à outra enquanto ambos nos perdíamos ao som daquelas notas.
 E agora o único som capaz de rasgar o silencio era o compasso único dos nossos corações. Batendo forte, quase querendo sair do peito para se aninharem ao colo um do outro. Não sei quanto tempo terá passado, só sei que depois daquele solo jamais voltamos a tocar separados. Tocamos em uníssono. Em perfeita comunhão, dividindo as nossas estranhezas, elevando as nossas riquezas. Tal como a suavidade das teclas brancas e a imponência dos negros acordes, completa-mo-nos. Vivemos da mesma melodia fazendo de cada nota, um ultimo e derradeiro compasso. 

(imagem do Google)

Ao toque de um beijo...

Em beijos
contamos segredos
que só os lábios
conseguem entender.

Os ouvidos,
guardam ciume
dos segredos revelados
apenas ao enlace dos lábios.

Os olhos vêem
o que não querem ver.
Queimam os sonhos
que só os lábios
adormecidos de amor
dizem conhecer.

E as mãos,
as mãos desconhecem
o tacto que se arrasta
por toda a pele
que um só beijo
causa no corpo de quem ama.



(Imagem do Google)

Pensamentos a retalho #10 - Riscos

(Imagem do Google)
Riscos. Amar uma arte é por si só um risco. Quantas quedas não damos por amor? Estamos presos àquilo que amamos com as mesmas cordas que nos mantêm vivos. Assim, arriscar viver será sempre imperativo tal como possuir a arte de arriscar-se e de tornar sonhos em objectivos, por maior que seja a queda. Talvez a melhor recompensa seja a ultima. A ultima vista contemplada antes do imortal registo do momento, assim como a ultima morada no paraíso. E assim se conserva, para sempre, a memória de quem se agarra à arte de viver, a chama mantém-se viva nas cores de uma simples fotografia.

Sonhos Imperfeitos

De todas as vezes que me deito
Vejo-me no mesmo lugar
Vazio de tudo o que quero encontrar
Sem rumo, nem chão
Sem nada que as minhas mãos possam tocar.

Deixo o vento navegar-me na pele
Talvez um pouco de céu me acolha
Já que me falta a firmeza do chão debaixo dos pés
E debaixo da almofada adormece uma Terra do Nunca.
Num perpétuo nevoeiro feito de "Era uma vez"...

Dizem que nos contos de fadas
Todas as lágrimas são de alegria
Mas na Terra onde os castelos se fazem
De gotas de sonhos perfeitos
Somam-se os Pretéritos imperfeitos
E subtraem-se os desejos reprimidos.

Sonhos são espelhos perfeitos
Do quão imperfeita pode ser a realidade
Sempre que não a podemos alcançar
Com a extrema força que nos fez nascer.
Com a mesma fé,
Que nos ungiu o primeiro sopro de vida
Aclamando a vontade de gritar.

Nada seria mais perfeito que o sonho
Agarrado ao choro de uma criança
Impaciente, esperando acolher o futuro
Que alberga no peito, derramado sobre seus pés
Sem contas, nem medidas,
Sem historias de "Era uma Vez"...
Nascidas na dureza da insónia.

Porém uma vez, não são vezes
E as sem conta já foram repetidas e vorazes
Alimentando-se de sopros da alma
Lugar, onde descansam os estilhaços
Não se curam nem com mil abraços
Lá, escondidos na sombra,
Onde, hoje, jazem os sonhos imperfeitos.



(imagem do Google)



Pensamentos a retalho #9 - Versos de chuva (cont.)


Gosto do café quente. E gosto de tempo para o saborear. Nunca gostei de acordar a correr mas, às vezes, é preciso. Acordar é um verbo engraçado porque teimamos em dizer e fingir que estamos acordados quando na verdade nem abrimos os olhos. É estranho pensar que se pode sonhar de olhos abertos, ou viver de olhos fechados, ou ambas as coisas. Lembro-me que, religiosamente, todas as manhas me levanto ao som da mesma melodia. Podia ser outra qualquer. Mas não. Faço questão que seja aquela. 
Já me apeguei a ela, e só ela tem o dom de me acordar, mesmo que parcialmente. 
É estranho como nos afeiçoamos às coisas, às vezes, coisas tão insignificantes mas que, simplesmente não tem nem explicação, nem preço. Costumo dizer que mais facilmente me apego a objectos do que a pessoas. Mas é apenas meia verdade. Costumamos criar laços apenas com aqueles objectos que nos lembram algum lugar especial, alguém especial, algum sonho especial. Assim, gosto do café bem quente. Gosto do aroma, do cheiro, da simplicidade da chávena em que o sirvo e da música que o campanha... simplesmente porque me recorda dos nossos muitos cafés envolvidos na rotina diária. Nem sempre temos tempo para reparar nos gestos de carinho que se escondem atrás de uma simples chávena de café. E, todas as manhas, uma única lembrança se apodera dos meus pensamentos, sempre à mesma hora. As imagens daquele filme tão familiar de outros dias. Eu, entrava na cozinha, ainda meio acordada e tu com um enorme sorriso rasgado dizias:


- Bom dia amor, fiz-te café. 
Ao que eu prontamente respondia de olhos brilhantes:
- Gosto tanto de ti, como dos grãos deste café.

(Imagem do Google)
Acho que nunca entendeste muito bem o que queria dizer. Talvez a culpa seja minha. Mas eu dizia a verdade. Nenhum dia para mim faz sentido sem um café, assim como ainda nenhum dia faz sentido para mim, sem ti.
Lembro-me de ter lido algures, que os Homens devem ser como um café: quentes, fortes e intensos. Eu resumiria em apenas uma palavras. Tanto cafés como Homens, devem ser marcantes. Distintos como a singularidade de cada dia, mas marcantes como as lembranças que a serenidade desses dias nos deixa para a posteridade. Por isso, de certa forma, me encontro, ainda, contigo, todas as manhas em cada chávena de café, esperado que algures, estejas tu a sentir o mesmo aroma, o mesmo cheiro, com a mesma intensidade. Assim estaremos ligados pela mesma força. A força de uma simples chávena de café servida com amor pela manha.



Pensamentos a retalho #8 - Versos de chuva (cont.)

(Imagem do Google)
Vais perguntar porque chorei. Talvez eu não tenha mais lágrimas para te responder. Mas saberás que quando, dos meus olhos, cair a ultima gota de mar, não terei mais palavras de colo para te oferecer. Todas elas se terão esgotado, todas elas serão sem sal. E, mesmo assim, continuarás inscrito em mim. Em todos os meus recantos, tal como o mar se guarda em cada gota de chuva, após séculos e séculos de ciclos sucessivos. De cada vez que contares os pingos de chuva, vais ouvir o som a minha voz, na doce melancolia de sempre... então saberás porque chorei e fechando os olhos, em silêncio, chorarás comigo.


Enquanto dormias...

Chegaste tarde.
Trazias contigo o cansaço 
Pediste aconchego
No meu regaço
E deixaste-te ficar
De mansinho até adormecer.

Adormeceste devagarinho
Como quem abraça as estrelas
Sonhando dançar com elas
Bem lá no alto, no colo das nuvens.

Entretanto,
Seguravas minha mão
Com gentil delicadeza
Somente tendo certeza
Que nunca te abandonaria.

Então, acariciava-te os cabelos
Tão macios, tão belos
E num profundo gesto de gratidão
Continuavas dormindo
E mesmo adormecido,
Sorrias para mim.



(Imagem do Google)

Pensamentos a retalho #7 Dúvidas...

(imagem do Google)

Se te oferecesse a lua amar-me-as mais?

Mas como poderei eu oferecer-te aquilo que sempre possuís? Ou porventura, desconheces ser morada do Luar?
Com toda a minha humildade, te ofereço apenas, o espaço dos meus olhos para te reflectires. Talvez a tua luz ilumine as minhas sombras e em mim se faça dia depois da noite escura. 
Não. Não serei digno de tamanha ousadia. Meus olhos não seriam capazes de albergar tão grande riqueza. Mas, se tu me amasses como eu te amo, não me faltaria coragem para cometer as mais audazes loucuras. E, se algum dia te imaginasse despida do teu céu, não pensaria duas vezes. Rasgaria as minhas próprias entranhas para te dar o céu do meu coração. 
Não. Como posso eu dar-te o céu do meu peito se ele sempre te pertenceu? Porventura, sempre soubeste... sem a tua presença, o meu céu não tem Luar. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Pertences ao mundo

Não vivas o negrume dos dias
Furtados de cores vivas
Ousa pintar-te

Não durmas nas sombras da noite
Escondendo as tuas mentiras
Deixa-me acordar-te

Não conheces o limite da tua força
Desconheces que nunca foste só teu
Pertences ao mundo
Desde o dia em que nasceste.

Nunca te encerres nas dúvidas
Procura apenas as respostas
Não respondas apenas ao silencio
Cala só a dor que te fez nascer
E vive.

Grita, como da primeira vez
Que os teus pulmões se encheram de ar
Respira fundo e chora todas as mágoas
Que carregas no peito,
No fundo do olhar

Guarda cada pedaço de ti
Quase curado do mundo em que vives
Separado de tudo o resto
Marca o teu lugar nesta Terra, que te viu nascer,
E renasce.

Pinta-te de novo
Com as mesmas cores
Com que foste gerado
Com os mesmos traços que herdaste
Daqueles que viveram antes de ti
E que ainda permanecem no teu sangue,
E encontra-te.

Senta-te no colo das horas
E espera.
Grita,
Chora,
Ora,
Porque nunca foste só teu
Nunca me pertences-te
Pertences ao mundo
Desde o dia em que nasceste.



(imagem do Google)


És veneno

Provar o veneno dos teus lábios
Sucumbir diante das trevas da tua sombra
Deixar cair-me por terra
Em todas as cinzas que já fizeram parte de nós.

Labaredas flamejam toda a minha pele
E aos poucos o veneno torna-se vida
Transfigurando um peito em chamas
Que não conhece outro vicio que não o teu.

Assaltos de loucura
Tomam posse de nós
E descansam devagarinho
Junto dos desejos mais íntimos
Sem acordar os sonhos que havíamos tido.

Reconheço-te em mim
Em cada reflexo no espelho
Vejo na luz dos meus olhos
A cor do teu veneno

Cálices de angustia
Mascarados de poções de amor
Vícios desmedidos
Veneno, puro veneno
Que nos embriaga
Em cada beijo.

Guarda em mim
Todo o teu veneno
Jura que nenhuma outra
O provará dos teus lábios
Enlaça tua alma na minha
Promete-me um presente envenenado
Por todo o teu amor
Para o resto da eternidade.



(imagem do Google)

Pensamentos a retalho #6- Calvários

(imagem do Google)
E quem disse que tudo tem de ser perfeito? Até as imperfeições têm o seu lado mais perfeito. A perfeição é uma espécie de ironia com que a vida nos brinda. Talvez para se desculpar das cruzes que nos "obriga" a carregar, ou apenas porque sim. Nunca me conseguiram definir a palavra perfeição... será que tu consegues? Quando te conheci achei que tu eras essa perfeição imperfeita que eu sempre procurei. Não sei se estava certa, nem enganada. A vida nunca responde a estas questões. Oferece-nos apenas o nosso calvário, sem grandes explicações, nem mapas, nem GPS, nem nada. Cada um, é encarregue de desenhar o seu próprio destino imaginando descrever-se a si mesmo em cada esquina. Uma espécie de guia de ultimo recurso com jeito de manual de instruções ... mas não vale a pena perder muito tempo a fazer planos. Viver é um risco, ou se atira no escuro ou não se vive. É simples. Não há tempo para grandes planos de ultima hora, é velejar ao sabor do vento. A cruz não se pode largar, nem passar a ninguém. Cada um carrega a sua. Ela já nasce connosco. uma vez de pé, de olhos fixos no caminho, resta percorrer todo o calvário. E vamos ser honestos, há calvários que todos gostávamos de percorrer. O próprio amor é uma espécie de calvário, que se percorre em cada segundo de paixão. Pelo menos enquanto há fogo. Talvez a alma se salve. Dizem que o amor é um nobre sentimento. Não nos parecerá tão nobre quando não é correspondido. Eis a cruz mais pesada dos calvários da alma. Nem todos resistem ao caminho... Ele é penoso e a imponência de tal cruz derruba-nos muitas vezes. Forte é aquele que, após cada queda, lambe as feridas e segue a viagem sempre na companhia da sua cruz. Na verdade, mesmo sem saber, terá de carrega-la até ao ultimo suspiro. Seja ele de amor ou de dor. Até que seu corpo se derrame diante da sua paixão. Nesse momento terá certeza que a "ressurreição" não é apenas privilégio de Deus. Todo o Homem ressuscita em cada gesto de amor, em cada lágrima de paixão em cada calvário vivido.

Sinais de fumo

Mantos de névoa 
Cobrem todo o meu ser
Desde que deixei de ser
Aquilo que sempre fui
Procuro respostas
No meio do nevoeiro
Tudo o que vejo
São sinais de fumo.

Já não vejo
A luz que me acordava
Todas as manhas
Já não tenho
O teu abraço vestido de verão
Já não estas aqui
Deixaste-me apenas
Um rasto de sinais de fumo.

Não sei o que fazer
Com as lágrimas que choro
Não sei se as calo
Não sei se as adoro
Elas ateiam a paixão
Que ainda sinto por ti
Revelam toda a minha fragilidade
Toda a imponência deixada
Um dia numa velha fogueira
E hoje só restam
Breves sinais de fumo.

Sinais vestidos de mágoa
Revelam o quão frágil nós somos
Acabamos por guardar
Apenas aquilo que devíamos esquecer
Por capricho de recordar
Aquilo que nos faz sofrer
Uma e outra vez a chuva vai cair
Como lágrimas de uma estrela
E tudo o que vou encontrar
É um manto de sinais de fumo.


(imagem do Google)




Pensamentos a retalho #5 - Ser livro

(imagem do Google)

As paginas daquele livro, carregavam aquele intenso aroma a ti. Estavas marcado em todas as páginas. Todas as letras me traziam a tua imagem. Uma saudade imensa que me acompanhava sempre. Doía só de pensar em termina-lo. No entanto, continuava a lê-lo. Era mais forte que eu. E todas as noites, relia a mesma história vezes sem conta. Creio já saber todas as palavras de cor, mas a saudade de ti é o meu pior vicio. Ainda não perdi aquele velho habito de sublinhar as frases mais marcantes. Mas quais frases seriam essas, se tudo naquele livro é marcante?

Sempre tiveste esse dom de marcar a diferença, de aos poucos tomares conta de todas as minhas páginas. Hoje, eu sei, tu és o meu livro. Mais ninguém o conseguiu ser. Talvez eu prefira os teus dias de lirismo, mas as nossas muitas prosas também se fizeram notar. Velhas historias sempre começam da mesma maneira... e terminam da mesma maneira também. Mas eu nunca fui de grandes tradições em coincidências de acaso. Sempre preferi o charme das reticencias à melancolia do ponto final. Porém há tramas que nunca conhecem o fim... sempre ouvi dizer que o que é bom acaba depressa. Talvez seja verdade. Também se diz por aí que nada dura para sempre... então talvez seja isso que eu pretendo ser. O teu nada... simplesmente porque quero que nunca acabe... 

As tuas cordas...

Amarram-se as cordas
Que a vida te deixou
Umas se enlaçam nas outras
Ninguém sabe quem as atou.

Atam-se com nós apertados
Puxando tudo para o vazio
Apertam os pedaços deixados
Presos num só fio

Cordas feitas de sonhos
Outras feitas de amor
Algumas tecem o medo
Outras rasgam-se de dor.

Brandas são as cordas que nos prendem
Aos portos desta vida
Suportam grandes tempestades
Partem-se nas memórias esquecidas
Dançam os capricho do vento
E orgulhosas se apertam
Como apertadas são as leis dos abraços
Que se enlaçam em notas doces
Marcadas em cada pedaço.



(imagem do Google)

Enquanto a chuva caía

A chuva caía lá fora,
E nós aqui aninhados 
Corações enlaçados 
Um no outro, a noite toda.

Desamarramos velhos segredos
Despidos de qualquer preconceito
Sentimos ambos os medos
Escondidos nas cicatrizes marcadas.

Hoje temos o calor das almas
Florimos na mesma primavera
Talvez o verão nos acompanhe a vida
Ou talvez apenas sare as feridas

Minha mão descansa no teu peito
Meus olhos partilham a mesma luz dos teus
O ritmo é marcado pelas notas do coração
Juntos ouvimos a mesma canção

Deitados na sombra um do outro
Noite fora, vivemos apenas o agora
Aventuras acordadas
Em breves histórias sonhadas
Abençoadas num só beijo
E, lá fora a chuva ainda caía. 



(Imagem do Google)