É no silêncio
que as lágrimas formam rios
Correndo de
encontro aos mares da alma
Sente-se apenas
o murmúrio salgado
Ouve-se apenas
um vazio desmedido
Sinais que
arrancam do passado
Rumores de um
orgulho ferido.
Não é que eu
queira exumar a dor
Mas não se pode
viver sem arejar o peito
Livrar-me de
todas as mágoas em que me deito
E acordar de novo de olhos enxutos
Prontos para
viverem novos desgostos.
Por pior que
seja o motivo
Ou maior que
seja a razão
O triste não é
chorar sem causa
É deixar a ira invadir o coração
E no auge da
raiva, da dor, do ciúme
É ficar preso e
suspenso nas teias do queixume
Que esconde
sempre a verdadeira causa da tristeza
Então, mesmo
não querendo, chora-se de surpresa
Lágrimas são
mais que gotas de água salgada
São espinhos,
são veneno, são paixão
As vezes
alegria, mais vezes solidão
São ondas que
nascem no peito e banham o olhar
São pedaços de
nós embrulhados na dor de amar
E no final
resta apenas uma certeza
Chora-se mais a
dor que a gentileza
Porque o que dói
não é chorar
É querer chorar
e não poder
É sentir as lágrimas
e não as ter.